Intervenção de Jerónimo de Sousa
no lançamento da «Fotobiografia de Álvaro Cunhal»

Uma vida exemplar<br> que nos enche de confiança

Em nome do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês queria, antes de mais, agra­decer a vossa pre­sença neste acon­te­ci­mento edi­to­rial de lan­ça­mento da «Fo­to­bi­o­grafia de Álvaro Cu­nhal» que, es­tamos certos, re­co­nhe­cerão pelo valor e qua­li­dade do tra­balho que agora se dá a co­nhecer como mais um mo­mento mar­cante no con­junto das ini­ci­a­tivas que temos vindo a re­a­lizar no âm­bito das co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário do seu nas­ci­mento. Temos afir­mado, no de­correr do já ex­tenso e di­ver­si­fi­cado pro­grama das co­me­mo­ra­ções re­a­li­zado, que Álvaro Cu­nhal é uma fi­gura cen­tral e uma re­fe­rência maior da nossa his­tória con­tem­po­rânea e da luta do nosso povo pela li­ber­dade, a de­mo­cracia e a eman­ci­pação so­cial e hu­mana.

Não há exa­gero quando afir­mamos que esse homem de cul­tura in­te­gral e in­vulgar in­te­li­gência, de firmes con­vic­ções hu­ma­nistas, in­tei­reza de ca­rácter, é uma fi­gura fas­ci­nante. Esta obra co­lec­tiva que agora se dá à es­tampa re­vela-o na ple­ni­tude e di­ver­si­dade da sua vida, da sua in­ter­venção po­lí­tica, como mi­li­tante e di­ri­gente co­mu­nista, como es­ta­dista, como in­te­lec­tual, en­saísta, cri­ador li­te­rário, ar­tista plás­tico e te­o­ri­zador de arte, mas igual­mente nas suas re­la­ções mais ín­timas e pes­soais como filho, como pai, como irmão, como com­pa­nheiro que amou os seus com a mesma in­ten­si­dade com que foi amado e cuja pro­fun­di­dade dessas re­la­ções afec­tivas so­bres­saem com cris­ta­lina trans­pa­rência nesta fo­to­bi­o­grafia.

Uma obra que, con­tendo uma his­tória pes­soal de um homem ex­tra­or­di­nário, co­mu­nista con­victo, re­vela não apenas o tra­jecto de uma vida de tra­balho, luta, co­ragem e dig­ni­dade, vi­vida em nome da con­cre­ti­zação do ideal da cons­trução de uma so­ci­e­dade li­berta da ex­plo­ração do homem pelo homem, mas também a his­tória das nossas pró­prias vidas no úl­timo sé­culo. Uma his­tória na qual foi um pro­ta­go­nista des­ta­cado, pre­sente nos mais sig­ni­fi­ca­tivos e im­por­tantes acon­te­ci­mentos da nossa vida co­lec­tiva.

His­tória da luta do povo

Nesta «Fo­to­bi­o­grafia» está muita da his­tória do nosso País e do nosso povo. Está a vida e luta dos tra­ba­lha­dores, dos cam­po­neses, dos pes­ca­dores, dos in­te­lec­tuais, dos jo­vens e dos es­tu­dantes, das mu­lheres e das classes e ca­madas an­ti­mo­no­po­listas, que será uma cons­tante em todos os pe­ríodos da vida na­ci­onal. Do pe­ríodo da re­sis­tência à Re­vo­lução de Abril. Do pe­ríodo re­vo­lu­ci­o­nário ao pe­ríodo de re­cu­pe­ração ca­pi­ta­lista e dos go­vernos de po­lí­tica de di­reita, que per­ma­nece até aos nossos dias.

Grandes e co­ra­josas lutas que não podem ser des­li­gadas do con­tri­buto, da acção e da in­ter­venção do PCP e do acom­pa­nha­mento, es­tudo e con­tri­buição de Álvaro Cu­nhal que desde cedo deu para a sua va­lo­ri­zação e de­sen­vol­vi­mento como ele­mento fun­da­mental e de­ter­mi­nante do pro­cesso de mu­dança e motor das grandes trans­for­ma­ções.

Uma con­tri­buição bem evi­dente na sua pro­posta de ade­quação da luta da classe ope­rária e dos tra­ba­lha­dores às con­di­ções im­postas pelo re­gime fas­cista. Isso está pa­tente, no re­la­tório por si apre­sen­tado no já lon­gínquo III Con­gresso do PCP, que esta Fo­to­bi­o­grafia evi­dencia, que per­mitiu que a classe ope­rária se ti­vesse trans­for­mado na van­guarda da luta de re­sis­tência an­ti­fas­cista, criado as con­di­ções para o sur­gi­mento da In­ter­sin­dical, em 1970, e esta ti­vesse de­sem­pe­nhado o papel que de­sem­pe­nhou nos grandes mo­vi­mentos de massas e o papel de re­levo que as­sumiu no pro­cesso re­vo­lu­ci­o­nário de Abril e que hoje per­ma­nece como o grande ba­lu­arte dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses, e a mais im­por­tante e com­ba­tiva or­ga­ni­zação so­cial do País.

Uma con­tri­buição de grande ori­gi­na­li­dade de res­posta à es­pe­ci­fi­ci­dade da si­tu­ação por­tu­guesa, quer na via es­co­lhida da in­ter­venção do mo­vi­mento ope­rário no plano sin­dical com o aban­dono dos sin­di­catos clan­des­tinos e a par­ti­ci­pação nos sin­di­catos na­ci­o­nais, quer no plano das so­lu­ções para ga­rantir a uni­dade da classe ope­rária que ha­veria de in­flu­en­ciar e de­ter­minar as ca­rac­te­rís­ticas únicas que apre­senta o mo­vi­mento sin­dical uni­tário por­tu­guês.

Estar onde estão as massas, tra­ba­lhar e aprender com elas, e com elas agir na de­fesa dos seus in­te­resses, foi a pa­lavra de ordem que então se impôs e que hoje mantém toda a ac­tu­a­li­dade, par­ti­cu­lar­mente quando as­sis­timos à mais brutal ofen­siva contra as con­quistas que são o re­sul­tado da luta de ge­ra­ções de tra­ba­lha­dores e se impõe pôr fim a uma po­lí­tica, a um pacto de agressão e a um go­verno de de­sastre na­ci­onal.

Uni­dade, so­li­da­ri­e­dade, luta

Nesta «Fo­to­bi­o­grafia» evi­dencia-se o em­pe­nha­mento e a par­ti­cular im­por­tância que Álvaro Cu­nhal deu à uni­dade das forças an­ti­fas­cistas e à cri­ação e or­ga­ni­zação de am­plos mo­vi­mentos uni­tá­rios po­lí­ticos e so­ciais, na afir­mação, de­sen­vol­vi­mento e êxito dos quais o PCP se em­pe­nhou. Am­plos mo­vi­mentos que vão, em pe­ríodos di­versos, do MUNAF ao MUD, do Mo­vi­mento Na­ci­onal De­mo­crá­tico à Frente Pa­trió­tica de Li­ber­tação Na­ci­onal, das Co­mis­sões De­mo­crá­ticas Elei­to­rais à re­a­li­zação dos con­gressos da Opo­sição De­mo­crá­tica, no quadro dos quais se tra­varam im­por­tantes ba­ta­lhas po­lí­ticas e elei­to­rais vi­sando a cri­ação de con­di­ções para o der­rube da di­ta­dura fas­cista. Mas igual em­pe­nha­mento no es­forço para unir os de­mo­cratas, os pa­tri­otas, as forças e or­ga­ni­za­ções so­ciais na de­fesa do re­gime de­mo­crá­tico e das grandes con­quistas de Abril, e na pro­cura da con­cre­ti­zação da al­ter­na­tiva ao rumo de des­truição, sub­versão e mu­ti­lação que há muito vem sendo se­guido no País.

Nesta «Fo­to­bi­o­grafia» está muita da his­tória da vida e luta dos co­mu­nistas por­tu­gueses, que se or­gu­lham de o ter tido como seu Se­cre­tário-geral, com uma in­ter­venção que marcou o Par­tido, esse Par­tido que re­ci­pro­ca­mente havia também de marcar o homem que foi com a sua per­so­na­li­dade ímpar e o re­vo­lu­ci­o­nário de corpo in­teiro que co­nhe­cemos. A his­tória de um Par­tido cons­truído a pulso, com o so­fri­mento e o sangue de muitos dos seus me­lhores, que esta «Fo­to­bi­o­grafia» não es­quece, e na cons­trução do qual Álvaro Cu­nhal deu um con­tri­buto de­ci­sivo. Um con­tri­buto pes­soal ines­ti­mável que se alargou aos mais di­versos do­mí­nios da vida da so­ci­e­dade por­tu­guesa e se pro­jectou na acção co­lec­tiva de um Par­tido com uma in­ter­venção mar­cante e ímpar na vida do País, mas também à luta li­ber­ta­dora de ou­tros povos, em di­recção aos quais er­guia o seu olhar fra­terno e so­li­dário na pro­cura e afir­mação de um mundo me­lhor e mais justo.

Um olhar que se tra­duziu numa in­tensa e pres­ti­gi­ante in­ter­venção e acção no plano in­ter­na­ci­onal de apoio aos mo­vi­mentos de li­ber­tação na­ci­onal, à luta pela paz, de es­tí­mulo ao pro­cesso de eman­ci­pação dos tra­ba­lha­dores e dos povos e à luta pelo so­ci­a­lismo, em de­fesa do re­forço da uni­dade e so­li­da­ri­e­dade do mo­vi­mento co­mu­nista in­ter­na­ci­onal e deste com a frente anti-im­pe­ri­a­lista. Uma in­ter­venção re­co­nhe­cida que, por isso, gran­jeou o res­peito dos muitos mi­lhões de seres hu­manos, que nesse sé­culo e nos di­versos con­ti­nentes, lu­tavam contra a ex­plo­ração e pro­cu­ravam e ex­pe­ri­men­tavam os ca­mi­nhos de uma vida au­tó­noma e in­de­pen­dente, mas igual­mente um enorme pres­tígio para o seu Par­tido e para o seu País. Isso está es­pe­lhado na mul­ti­pli­ci­dade da sua par­ti­ci­pação nos mais im­por­tantes en­con­tros e fó­runs mun­diais de de­bate dos pro­blemas in­ter­na­ci­o­nais e na vas­tís­sima rede de re­la­ções in­ter­na­ci­o­nais que pon­tuam por toda a «Fo­to­bi­o­grafia».

Tempo de grandes com­bates

Álvaro Cu­nhal viveu um tempo de grandes com­bates, grandes de­sa­fios e em­pol­gantes em­pre­en­di­mentos, mas também de grandes pe­rigos e ame­aças. Num pro­cesso que não foi suave e re­gular, mas aci­den­tado, de avanços e re­cuos, que co­nheceu os hor­rores e a tra­gédia da guerra e do fas­cismo. Um tempo que atra­vessou quase todo o sé­culo XX e o prin­cípio do pre­sente.

Viveu-o desde muito cedo, in­ter­vindo e tra­ba­lhando in­ten­sa­mente do lado dos que fa­ziam avançar a roda da his­tória no sen­tido do pro­gresso e do bem-estar dos povos. Viveu esse sé­culo de grandes con­quistas e mu­danças re­vo­lu­ci­o­ná­rias, no de­correr do qual o homem deu novos passos no seu ca­minho mi­le­nário em busca da li­ber­dade e da fe­li­ci­dade e no de­sen­vol­vi­mento do seu saber e ca­pa­ci­dade cri­a­dora. O sé­culo das grandes lutas dos tra­ba­lha­dores e dos povos sub­me­tidos. O sé­culo da Re­vo­lução de Ou­tubro, dessa re­a­li­zação pi­o­neira, sem pre­ce­dente his­tó­rico que inau­gura uma nova época his­tó­rica – a pas­sagem do ca­pi­ta­lismo ao so­ci­a­lismo que irá in­flu­en­ciar de forma po­si­tiva a luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos em todo o mundo a favor do pro­gresso so­cial e do de­sen­vol­vi­mento. O sé­culo das frentes po­pu­lares. O sé­culo da Guerra Civil de Es­panha que foi a res­posta do fas­cismo ao avanço das forças pro­gres­sistas e que Álvaro Cu­nhal co­nheceu de perto. O sé­culo das grandes con­quistas dos di­reitos po­lí­ticos, la­bo­rais e so­ciais e de afir­mação e as­censo do mo­vi­mento ope­rário e das massas po­pu­lares que a vi­tória na Se­gunda Guerra Mun­dial sobre o na­zi­fas­cismo po­ten­ciou.

O sé­culo da der­ro­cada dos im­pé­rios co­lo­niais que o ím­peto re­vo­lu­ci­o­nário dos povos li­quidou. O sé­culo da Nova Ordem Mun­dial, da carta da ONU, de Hel­sín­quia e da co­e­xis­tência pa­cí­fica, mas também da Guerra Fria.

O sé­culo da Re­vo­lução de Abril. Dessa por­tu­guesa re­vo­lução da qual esta «Fo­to­bi­o­grafia» re­cebe as mais ex­pres­sivas e belas fo­to­gra­fias e nas quais se in­cluem também as do ca­pí­tulo da luta dos tra­ba­lha­dores e do povo. Fotos mag­ní­ficas e de uma ex­pres­siva be­leza no que pro­jecta de ver­dade na re­lação de Álvaro Cu­nhal com o povo, na lim­pidez de sen­ti­mentos re­cí­procos de hu­ma­ni­dade e res­peito que delas emanam.

Fo­to­gra­fias que re­velam não apenas a di­mensão do te­o­ri­zador da Re­vo­lução que foi Álvaro Cu­nhal e o seu con­tri­buto pre­cioso, par­ti­cu­lar­mente com essa obra no­tável que é o «Rumo à Vi­tória» e que, in­ques­ti­o­na­vel­mente, criou con­di­ções para a Re­vo­lução de Abril e para as pro­fundas trans­for­ma­ções re­vo­lu­ci­o­ná­rias ope­radas na so­ci­e­dade por­tu­guesa, que se tra­du­ziram em im­por­tantes con­quistas dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês. Con­quistas em de­fesa das quais Álvaro Cu­nhal de­dicou o me­lhor do seu saber, da sua ex­pe­ri­ência e da sua in­ter­venção, como di­ri­gente do PCP, como de­pu­tado, como mi­nistro da Re­pú­blica nos go­vernos pro­vi­só­rios, como con­se­lheiro de Es­tado.

Fo­to­gra­fias que mos­tram não apenas o orador enér­gico, firme e con­fi­ante, es­cu­tado e res­pei­tado, pre­sente em cada uma das grandes ini­ci­a­tivas e ba­ta­lhas po­lí­ticas ou em cada uma das curvas aper­tadas que a jovem Re­vo­lução teve que en­frentar, para re­chaçar os vá­rios golpes das forças da contra-re­vo­lução que desde a nas­cença a tentou li­quidar, mas a razão que levou tantas vezes Álvaro Cu­nhal a afirmar com con­vicção que as con­quistas e os va­lores de Abril se mantêm como uma re­fe­rência na cons­trução do fu­turo de Por­tugal.

Estão ali, na força da­quelas ima­gens, nos rostos e vi­vên­cias que trans­pa­recem de cada um dos par­ti­ci­pantes, e o que elas sig­ni­ficam de li­gação à vida e à re­a­li­dade, mas também de as­pi­ração co­lec­tiva. Estão ali, na­queles rostos quei­mados pelo tra­balho árduo dos campos, em­pe­nhados na re­a­li­zação da Re­forma Agrária – que Álvaro Cu­nhal de­finia como a mais bela con­quista da Re­vo­lução. Ex­pressa-se nesses vi­brantes co­mí­cios e ma­ni­fes­ta­ções de mi­lhares e mi­lhares de por­tu­gueses, da classe ope­rária e dos tra­ba­lha­dores, das mais di­versas ca­madas da po­pu­lação. Na ale­gria da par­ti­ci­pação. Na vida das em­presas e nos com­bates tra­vados em de­fesa da eco­nomia na­ci­onal, das na­ci­o­na­li­za­ções e por me­lhores con­di­ções de vida para todos.

Vi­vên­cias e re­a­li­dades que dei­xaram marcas pro­fundas no País e que são a razão de, ainda hoje, e pe­rante uma Re­vo­lução tão gol­peada, afir­marmos com a mesma con­vicção o fu­turo desses va­lores. Marcas que estão gra­vadas na vi­vência co­lec­tiva das largas massas que se en­vol­veram na cons­trução da so­ci­e­dade nova de Abril e que esta obra vai con­tri­buir para re­a­vivar e ser também um re­fe­ren­cial da nossa me­mória co­lec­tiva. Vi­vên­cias e va­lores que pas­sarão de pais para fi­lhos e que ja­mais se apa­garão, como bem se vê no en­toar da «Grân­dola, Vila Mo­rena» que as sim­bo­liza, nas lutas que hoje se travam contra a po­lí­tica de des­truição, im­posta pela troikas na­ci­onal e es­tran­geira ao povo por­tu­guês e ao País!

Con­fiar no fu­turo, sempre

Mas o que a «Fo­to­bi­o­grafia» re­vela, para quem a quiser olhar sem pre­con­ceitos é, sem dú­vida, a re­lação de au­ten­ti­ci­dade do di­ri­gente do Par­tido com o povo, que se ex­pressa,em Álvaro Cu­nhal, numa pe­cu­liar forma de estar tão pró­xima e tão na­tural, onde está pa­tente o gosto ge­nuíno do con­tacto di­recto com as pes­soas, de as co­nhecer e re­ceber delas a ex­pe­ri­ência das suas vidas, a sua opi­nião. São muitas as fotos que re­velam essa re­lação de sim­pli­ci­dade, pro­xi­mi­dade e de res­peito e apreço re­cí­procos. Vê-se no à-von­tade da­quela mu­lher sim­ples em Corvos que lhe co­loca a sua mão ca­le­jada pelo tra­balho no ombro e com ele con­versa, tra­tando-o e fa­lando como um dos seus. Nas inú­meras fotos de en­con­tros oca­si­o­nais e de tra­balho ou na­quela es­plên­dida foto que mostra a efu­siva ma­ni­fes­tação de ale­gria da­quela mu­lher do campo que lhe en­trega um ramo de flores sil­ves­tres. Um ramo de flores igual àquele que Álvaro Cu­nhal teria co­lhido nos jar­dins da prisão para dar à sua mãe que o vi­si­tava em dia de anos, se o seu pe­dido ao di­rector, que esta «Fo­to­bi­o­grafia» re­produz, ti­vesse tido aco­lhi­mento.

Esta é a uma «Fo­to­bi­o­grafia» de um com­ba­tente in­tré­pido, que se en­tregou com de­no­dada ab­ne­gação – re­sis­tindo às mais ter­rí­veis e duras provas de vida clan­des­tina e prisão – à causa dos tra­ba­lha­dores e do seu povo, à causa da li­ber­dade, da de­mo­cracia do so­ci­a­lismo. Que, nos mo­mentos amargos da der­rota, na perda de con­quistas, na des­truição de di­reitos, nos en­sinou que nada está per­dido para todo o sempre.

Sem clau­dicar, man­teve, sempre e sempre, um ele­vado nível de con­fi­ança no fu­turo, nos seus com­pa­nheiros de com­bate e de pro­jecto, na classe ope­rária, nos tra­ba­lha­dores, na con­cre­ti­zação dos ob­jec­tivos su­premos do seu Par­tido – o PCP: a re­a­li­zação da so­ci­e­dade nova, o so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo.

Con­fi­ança re­a­fir­mada par­ti­cu­lar­mente nos mo­mentos mais di­fí­ceis, como o foram as dra­má­ticas der­rotas do so­ci­a­lismo no final do Sé­culo XX e quando os se­nhores do mundo e os seus arautos anun­ci­avam o ca­pi­ta­lismo como o fim da his­tória. Num mo­mento em que o ca­pi­ta­lismo está mer­gu­lhado numa das mais pro­fundas crises, a sua afir­mação de que «nem o pro­jecto co­mu­nista de uma so­ci­e­dade nova e me­lhor deixou de ser vá­lido, nem o ca­pi­ta­lismo se mos­trou ou mostra capaz de re­solver os grandes pro­blemas da hu­ma­ni­dade e se pode con­si­derar um sis­tema de­fi­ni­tivo», ecoam hoje como cer­tezas que a vida está a con­firmar.

Um imenso le­gado

Álvaro Cu­nhal deixa-nos um imenso le­gado, de que esta «Fo­to­bi­o­grafia» dá tes­te­munho. Deixa-nos, desde logo, esse grande exemplo da en­trega de­sin­te­res­sada ao ser­viço da causa justa que abraçou. Uma con­cepção e uma prá­tica po­lí­tica de re­cusa de van­ta­gens e pri­vi­lé­gios so­ciais. Uma con­cepção do exer­cício da ac­ti­vi­dade po­lí­tica re­a­li­zada para servir o povo e o País e não in­te­resses pes­soais ou de grupo, que, nos tempos que correm, as­sume uma grande ac­tu­a­li­dade.

Uma im­por­tante pro­dução ar­tís­tica, no­me­a­da­mente no campo da es­té­tica, da cri­ação li­te­rária e nas artes plás­ticas. Uma no­tável obra teó­rica, onde se re­velam o do­mínio das te­o­rias e mé­todo de aná­lise do mar­xismo-le­ni­nismo que as­si­milou de forma cri­a­tiva, par­ti­cu­lar­mente para res­ponder aos pro­blemas da so­ci­e­dade por­tu­guesa e à con­cre­ti­zação de um pro­jecto de de­sen­vol­vi­mento so­be­rano do País.

Uma con­tri­buição de­ci­siva para a cons­trução do Par­tido que somos, com as suas ca­rac­te­rís­ticas e iden­ti­dade, mas igual­mente um con­tri­buto no­tável na de­fi­nição do seu pro­jecto po­lí­tico. Isso é pa­tente na sua con­tri­buição de re­levo para a de­fi­nição do Pro­grama para a Re­vo­lução De­mo­crá­tica e Na­ci­onal e no seu papel des­ta­cado na for­mu­lação do Pro­grama do Par­tido «Por­tugal: uma de­mo­cracia avan­çada no li­miar do sé­culo XXI» e que está na base do ac­tual Pro­grama do PCP «Uma De­mo­cracia Avan­çada – Os va­lores de Abril no fu­turo de Por­tugal». Um pro­grama para res­ponder aos pro­blemas do de­sen­vol­vi­mento do País para a ac­tual etapa his­tó­rica, parte in­te­grante e cons­ti­tu­tiva da luta pelo so­ci­a­lismo, e cuja re­a­li­zação é igual­mente in­dis­so­ciável da luta que hoje tra­vamos pela con­cre­ti­zação da rup­tura com a po­lí­tica de di­reita, e da ma­te­ri­a­li­zação de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda.

Mas o que trans­pa­rece nesta «Fo­to­bi­o­grafia» é a força das con­vic­ções e do ideal que Álvaro Cu­nhal afirmou ao longo de uma vida toda, de uma luta in­teira – o ideal co­mu­nista!

 



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O livro das nossas vidas

O lan­ça­mento pelas Edi­ções Avante! da «Fo­to­bi­o­grafia de Álvaro Cu­nhal», que teve lugar no pas­sado dia 22, em Lisboa, é um acon­te­ci­mento edi­to­rial mar­cante e um ponto alto das co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário do nas­ci­mento do his­tó­rico di­ri­gente do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês e do mo­vi­mento co­mu­nista in­ter­na­ci­onal. Para além de ser, in­ques­ti­o­na­vel­mente, uma edição de grande qua­li­dade grá­fica e enorme in­te­resse e rigor his­tó­rico, a «Fo­to­bi­o­grafia de Álvaro Cu­nhal» per­mite também co­nhecer me­lhor a vida, o pen­sa­mento e a luta de uma fi­gura fas­ci­nante (que se con­funde com o Par­tido do qual foi o mais des­ta­cado cons­trutor) e, ao mesmo tempo, a pró­pria his­tória do País e do mundo em que vi­vemos, da qual foi um des­ta­cado pro­ta­go­nista.

Páginas de um percurso ímpar

Ao longo de mais de 290 pá­ginas, a «Fo­to­bi­o­grafia» re­vela as múl­ti­plas fa­cetas da per­so­na­li­dade de Álvaro Cu­nhal (mi­li­tante e di­ri­gente re­vo­lu­ci­o­nário, teó­rico do mar­xismo-le­ni­nismo, in­te­lec­tual, ar­tista, filho, irmão, pai, com­pa­nheiro) e os múl­ti­plos com­bates que travou, ao longo de mais de sete dé­cadas de de­di­cada mi­li­tân­tica co­mu­nista, pela li­ber­dade, a de­mo­cracia, a paz e o so­ci­a­lismo.
Nestas duas pá­ginas mos­tramos al­gumas das 820 ima­gens pu­bli­cadas nesta «Fo­to­bi­o­grafia», sig­ni­fi­ca­tivas da in­tensa e exem­plar vida de Álvaro Cu­nhal, que se con­funde com a he­róica luta do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês, do qual foi o mais des­ta­cado cons­trutor, e do povo por­tu­guês.